Brincar e seu impacto no desenvolvimento infantil: como os pais podem incentivar habilidades sociais e cognitivas

Brincar é muito mais do que uma simples atividade recreativa para as crianças. Como já discutimos em um bate-papo anterior com a psicóloga Camila Moreira, que atende na Clínica Casa Luz Saúde, brincar é essencial para o desenvolvimento integral dos pequenos, influenciando suas habilidades cognitivas, emocionais e motoras. Mas, além desses benefícios, o ato de brincar desempenha um papel fundamental na construção das habilidades sociais e na regulação emocional.  

Diante desse cenário, surge uma questão importante: como os pais podem criar um ambiente que favoreça esses aprendizados por meio das brincadeiras? A especialista responde, além de ainda explicar as mudanças que ocorrem no cérebro infantil durante o brincar e quais tipos de brincadeiras são mais adequadas para cada faixa etária.  

Como os pais podem promover brincadeiras que incentivem a convivência social?   

Os pais e responsáveis têm um papel essencial na criação de um ambiente lúdico que estimule a convivência social. Segundo Camila, esse processo envolve não apenas oferecer oportunidades e materiais adequados, mas também atuar como mediadores, incentivando interações positivas.   

“Brincadeiras em grupo são uma excelente forma de ensinar habilidades sociais, como compartilhar, cooperar e resolver conflitos. A interação com a família e os amigos é essencial para esse aprendizado. Por isso, os pais devem incentivar momentos de brincadeiras coletivas, seja entre irmãos, colegas ou em atividades comunitárias”, explica a psicóloga.   

Jogos cooperativos, esportes e brincadeiras de faz de conta são algumas das ferramentas que ajudam no desenvolvimento dessas habilidades. Além disso, criar um ambiente seguro e acolhedor é indispensável para que a criança se sinta confiante para explorar e interagir. “Os pais podem disponibilizar brinquedos que estimulem a colaboração e espaços que incentivem a criatividade e o respeito mútuo”, sugere Camila.   

Outro aspecto importante é a participação ativa dos pais nas brincadeiras, ajudando os filhos a lidar com emoções e a resolver conflitos de maneira saudável. “Durante jogos competitivos, por exemplo, os pais podem demonstrar paciência, respeito às regras e empatia. Em momentos de desentendimentos, podem orientar a criança a expressar seus sentimentos de forma construtiva e buscar soluções em conjunto, reforçando o aprendizado social”, completa a especialista.  

O que acontece no cérebro infantil durante o brincar?   

O ato de brincar não apenas diverte, mas também promove mudanças estruturais e funcionais no cérebro infantil. Durante as brincadeiras, diversas áreas cerebrais são ativadas, resultando na liberação de neurotransmissores, na formação de novas conexões neurais e no fortalecimento das funções cognitivas e emocionais.   

“Quando a criança brinca, há uma ativação intensa do córtex pré-frontal, que é responsável pelo planejamento e pela resolução de problemas, e do sistema límbico, que regula as emoções. Além disso, ocorre a liberação de dopamina, neurotransmissor ligado à motivação e ao aprendizado, o que aumenta o engajamento e a retenção de informações”, detalha Camila.  

O brincar também estimula a neuroplasticidade — a capacidade do cérebro de reorganizar conexões neurais conforme novas experiências. Brincadeiras que envolvem desafios cognitivos e físicos fortalecem as sinapses e promovem o desenvolvimento de habilidades como memória, atenção e criatividade.   

Além disso, as funções executivas, como controle inibitório, memória de trabalho e flexibilidade cognitiva, são aprimoradas durante atividades lúdicas estruturadas, como jogos de tabuleiro e desafios estratégicos. Segundo a psicóloga, “essas funções são fundamentais para a autorregulação e o desempenho acadêmico da criança, pois envolvem atenção, concentração e adaptação a novas regras”.   

Como diferentes brincadeiras estimulam áreas específicas do cérebro?   

Cada tipo de brincadeira ativa determinadas regiões cerebrais e contribui para o desenvolvimento de habilidades específicas. Camila Moreira destaca algumas delas:   

Jogos de memória: estimulam o hipocampo, responsável pelo armazenamento e recuperação de informações.   

– Quebra-cabeças e jogos de estratégia: ativam o córtex pré-frontal, melhorando a atenção seletiva, controle inibitório e planejamento.   

– Brincadeiras de construção, como Lego e blocos: fortalecem as funções executivas e a capacidade de resolução de problemas.   

– Atividades físicas, como pular corda, correr e jogar bola: desenvolvem o cerebelo, melhorando equilíbrio e coordenação motora.   

“A repetição de brincadeiras fortalece as conexões neurais, tornando o aprendizado mais eficiente. Além disso, a neuroplasticidade permite que o cérebro se adapte e otimize suas funções em resposta aos estímulos lúdicos”, reforça a especialista.   

Quais brincadeiras são mais indicadas para cada faixa etária?

Para que o brincar seja realmente benéfico, é importante adaptar as atividades conforme a fase de desenvolvimento da criança. A psicóloga sugere algumas opções:   

– 0 a 2 anos: brinquedos sensoriais, como chocalhos, móbiles e objetos com diferentes texturas e sons. Brincadeiras de esconder ajudam a desenvolver a noção de permanência do objeto.   

– 3 a 5 anos: brincadeiras de faz de conta, jogos de encaixe, pintura e modelagem com massinha, que estimulam a criatividade, a coordenação motora e a imaginação.   

– 6 a 8 anos: jogos de tabuleiro, esportes simples e quebra-cabeças, que fortalecem as funções executivas, como planejamento e controle inibitório.   

– 9 a 12 anos: jogos estratégicos, esportes em equipe e atividades colaborativas, como teatro ou construção de maquetes, que desenvolvem habilidades cognitivas e sociais avançadas.   

A escolha das brincadeiras deve levar em conta tanto o estágio de desenvolvimento quanto os interesses individuais da criança. Como destaca Camila Moreira, “brincar não é apenas uma forma de entretenimento, mas um elemento essencial para o crescimento saudável, influenciando aspectos emocionais, sociais e cognitivos”.   

Por isso, garantir tempo e espaço para que as crianças brinquem livremente é investir no futuro delas. Afinal, mais do que diversão, brincar é um caminho para o aprendizado e para a construção de habilidades que as acompanharão por toda a vida. 

 

 

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