Para que férias? A pausa que prepara para um novo começo

Depois de mais de 200 dias letivos, as férias chegam como um suspiro necessário. Estudantes, famílias, professores e equipes pedagógicas aguardam esse período não apenas como uma pausa da rotina, mas como um tempo capaz de restaurar corpo, mente e espírito. A importância desse intervalo vai muito além do descanso físico: ele influencia o desenvolvimento socioemocional, fortalece vínculos familiares e permite que crianças e adolescentes retornem às aulas mais motivados, organizados e equilibrados. 

Para nos ensinar mais sobre como as férias são importantes em nossa rotina, o blog da Rede Batista de Educação conversou com o capelão do Colégio Batista Mineiro BH – Floresta/Séries Finais, Ramon Maciel; com a professora de Geografia e do Projeto de Vida do Colégio Batista Mineiro BH – Floresta/Séries Finais, Luciana Magalhães; e com a coordenadora pedagógica do Colégio Batista Brasil Vila Velha, Ana Paula Grijó. 

Do ponto de vista espiritual, o capelão Pr. Ramon Maciel lembra que o próprio Deus, ao criar o mundo, separou um dia para descansar, mesmo sendo um Criador que nunca para de agir. Para ele, o descanso é um gesto pedagógico, uma lição sobre a necessidade humana de interromper a rotina, silenciar as obrigações e abrir espaço para o prazer e a renovação. O capelão explica que o descanso não significa a mesma coisa para todas as pessoas: pode ser pescar, caminhar, viajar, assistir a um filme ou andar de bicicleta, mas sempre envolve desacelerar e permitir que a mente respire. “Quando a vida se reorganiza por dentro, o corpo se fortalece para enfrentar novamente a rotina, evitando o esgotamento que nasce de uma mente que nunca descansa e de um corpo que nunca relaxa. Assim, o descanso faz parte do próprio projeto divino para manter o ser humano equilibrado, produtivo e saudável”, afirmou. 

A convivência familiar também ganha um papel central nesse período. Para o Pr. Ramon, não existe “tempo de qualidade”, mas simplesmente tempo, porque a Bíblia ensina que há tempo para tudo. Ele ressalta que tentar transformar o tempo em “qualidade” acaba transformando a convivência em desempenho. “O caráter, porém, se forma na presença constante, nos momentos alegres e difíceis, na rotina simples e verdadeira da vida familiar. É nesse cotidiano vivo que valores cristãos são transmitidos e memórias são construídas, seja em viagens, seja em casa, seja numa grande aventura ou em um dia comum na roça”, disse o capelão. 

Para tornar esse período ainda mais significativo, Pr. Ramon propõe um planejamento que inclua descanso, diversão e crescimento espiritual. Ele sugere visitas a museus e exposições, filmes que provoquem diálogos, caminhadas que favoreçam conversas e jogos em família que despertem o riso e a união. Uma sugestão que ele dá é viver “O Dia do Século XVI”: desligar as luzes, afastar a tecnologia, acender velas e ler juntos uma passagem bíblica, como o relato da criação em Gênesis. Simples e simbólicas, essas vivências criam memórias duradouras. O capelão também lembra que existe um descanso maior e eterno, anunciado por Cristo: um repouso que acalma, cura e reorganiza a alma. Ele cita Mateus 11:28 e relembra o episódio em que Jesus acalma o vento e o mar no Evangelho de Marcos. “Cristo é o nosso descanso permanente”. 

Se no campo espiritual o descanso é essencial, no campo emocional ele é igualmente indispensável, como destaca a professora Luciana Magalhães. Ela explica que o descanso permite que o cérebro processe emoções, diminua o estresse e recupere energia mental, algo ainda mais importante para crianças e adolescentes, que estão em pleno desenvolvimento das áreas responsáveis por autocontrole, tomada de decisões e regulação emocional. Por isso, esse período funciona como parte do próprio processo de amadurecimento. “As férias ajudam a regular emoções intensas, diminuindo ansiedade, irritabilidade e sobrecarga emocional”, afirma. 

Luciana enfatiza que, durante as férias, o alívio da pressão acadêmica permite que os jovens redescubram o prazer em atividades simples, consolidem aprendizagens e recarreguem as energias necessárias para o retorno escolar. “O ócio saudável é fundamental: quando a mente está livre para imaginar e criar, habilidades socioemocionais como criatividade, autonomia, identidade e autoestima se fortalecem naturalmente”, disse.  

A educadora alerta, porém, que as férias não devem ser totalmente livres nem excessivamente estruturadas. Uma rotina flexível traz segurança sem impedir liberdade. A ausência completa de rotina pode gerar desorganização e excesso de telas, enquanto uma agenda muito cheia impede descanso e aumenta a irritabilidade. O equilíbrio ideal envolve respeitar o ritmo da criança ou adolescente e preservar hábitos saudáveis de sono, alimentação e convivência. 

“Nesse contexto, o convívio familiar se torna um dos maiores fatores de proteção emocional. Conversar, brincar, cozinhar ou passear juntos desperta pertencimento e confiança, fortalece vínculos e cria memórias afetivas que impactam diretamente o comportamento, o desempenho escolar e a capacidade de enfrentar desafios”, afirma Luciana. 

Ao pensar no retorno às aulas, diz a coordenadora Ana Paula Grijó, as férias também cumprem um papel diretamente ligado à construção de novas experiências, ao fortalecimento de vínculos e ao desenvolvimento cognitivo e afetivo dos estudantes. Para ela, esse período é crucial tanto para o descanso físico e mental quanto para as interações sociais que acontecem em viagens, festas, passeios, brincadeiras e jogos, vivências que ampliam repertórios, fortalecem laços e geram aprendizagens significativas fora do ambiente escolar. 

Ana Paula observa que as férias costumam ser associadas à liberdade, à quebra da rotina e até à ausência de organização, o que pode levar a um ritmo mais lento e a certa procrastinação. “Por isso, à medida que o fim das férias se aproxima, pensar no retorno se torna necessário. Começar devagar é o melhor caminho: planejar a volta, ajustar gradualmente os horários de dormir e acordar e retomar pequenas responsabilidades ajudam o corpo e a mente a se prepararem para o novo ciclo escolar, afirma. 

Segundo a coordenadora, o descanso e o tempo em família proporcionam benefícios que impactam diretamente o comportamento e o desempenho dos estudantes: regulam emoções, aliviam tensões, reduzem o estresse, aumentam a sensação de bem-estar e fortalecem os laços afetivos. “Vivenciar experiências prazerosas em família contribui para a construção de memórias afetivas essenciais ao desenvolvimento das habilidades criativas e construtivas, fundamentais para as conexões e para os processos de aprendizagem”, pontuou. 

Para Ana Paula, o equilíbrio ideal entre descanso, lazer e pequenas responsabilidades envolve planejamento. “Estipular momentos de descanso, dividir pequenas tarefas, propor atividades coletivas em que todos possam opinar sobre o que fazer e incluir experiências ao ar livre, além de, vez ou outra, promover distanciamento das tecnologias e redes sociais”, afirmou. 

Ana Paula orienta ainda que as famílias criem ambientes lúdicos em casa, com espaços destinados a brincadeiras educativas e jogos pedagógicos, que estimulem leitura, interpretação e desafios cognitivos. “Brincadeiras como adedonha (adedanha para alguns estados brasileiros), mímicas, desafios de palavras ou jogos de adivinhação tornam o retorno às aulas mais leve e estimulante. Envolver a criança na compra do material escolar também desperta entusiasmo e reforça o desejo de voltar para a escola”, finaliza. 

No fim, as férias são mais do que um intervalo, são uma oportunidade de reorganizar a vida, fortalecer vínculos e reabastecer as energias que sustentam o aprendizado. São um tempo de viver o que realmente importa: convivência, presença, fé, criatividade, descanso e a alegria simples de estar junto. Quando bem vividas, deixam marcas que ultrapassam o calendário e acompanham os estudantes ao longo de todo o ano letivo. 

A Rede Batista de Educação deseja a todos os estudantes e seus familiares ótimas férias!